Sabesp é Privatizada, Resultando em Perda de Pelo Menos R$ 4,5 Bilhões para o Estado de São Paulo

Ações da estatal de saneamento foram vendidas pelo governo por cerca de 22% a menos do que valem hoje

Sabesp é Privatizada, Resultando em Perda de Pelo Menos R$ 4,5 Bilhões para o Estado de São Paulo

As ações da estatal de saneamento foram vendidas com um desconto de cerca de 22% em relação ao valor atual.

Na última segunda-feira (22), o governo de São Paulo concluiu o processo de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), resultando em uma perda de pelo menos R$ 4,5 bilhões para os cofres estaduais. Esse montante representa quase um terço dos R$ 14,8 bilhões arrecadados com a venda.

A perda foi calculada com base no valor das ações da companhia de água e esgoto, que foram vendidas durante o processo de privatização, e o preço atual desses papéis no mercado. Durante a privatização, as ações foram vendidas por R$ 67 cada, enquanto hoje, na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), esse mesmo papel está avaliado em R$ 87.

Análise Crítica

Para Amauri Pollachi, especialista em saneamento e conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), a diferença de preço é significativa e gera uma situação "absurda". Ele observa que o governo vendeu as ações e, no mesmo dia, o comprador poderia revender e obter um lucro de 30%.

"São quase R$ 5 bilhões que o estado poderia ter arrecadado se tivesse vendido as ações pelo preço atual", afirmou Pollachi, que é contrário à privatização do saneamento básico em São Paulo devido à sua importância para o bem-estar e a saúde da população.

Pollachi também destacou que a perda pode ser ainda maior se o valor potencial das ações for considerado. Um estudo do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), aponta que cada ação da Sabesp tem um valor estimado de R$ 103,90. Nesse cenário, o governo paulista abriu mão de cerca de R$ 8 bilhões ao vender as ações por R$ 67.

Impacto da Privatização

O estudo do Sintaema sugere que, sob administração privada, a Sabesp investirá menos do que o governo de São Paulo planejou para cumprir os compromissos da privatização. Com menos investimentos, a empresa terá maiores lucros, o que, por sua vez, poderá aumentar o valor das ações.

Detalhes da Privatização

Com a conclusão da venda, o governo paulista que detinha 50,5% das ações da Sabesp, agora terá 18% da empresa. O restante foi dividido da seguinte forma: a empresa Equatorial comprou 15% das ações, tornando-se o acionista de referência, pagando R$ 67 por ação. Outras ações (17%) foram vendidas a investidores de forma pulverizada, mas a empresa ainda não divulgou a identidade dos principais compradores.

Agora, a Sabesp deixa de ser uma empresa pública de capital misto e se torna uma companhia privada, com parte de seu capital ainda sob controle do governo de São Paulo, como acontece com a Eletrobras.

Novo Conselho de Gestão

Após a privatização, a Sabesp terá um novo conselho de gestão composto por nove membros. A Equatorial indicará três membros, incluindo o presidente, enquanto o governo de São Paulo também nomeará três representantes, com os demais membros sendo escolhidos pelos outros acionistas.

Metas e Tarifas

Com a privatização, a Sabesp mantém a meta de alcançar 99% de cobertura com água potável e 90% de cobertura com coleta e tratamento de esgoto até 2029, incluindo áreas rurais e núcleos urbanos informais, como favelas e palafitas.

As tarifas sociais e para pessoas em situação de vulnerabilidade, que são atendidas pelo Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), terão redução de 10%. A tarifa residencial padrão terá uma queda de 1%, e as tarifas comerciais e industriais terão uma redução de 0,5%. Essas diminuições serão subsidiadas por um fundo que receberá 30% da arrecadação com a privatização, além de parte dos dividendos da Sabesp.

Fonte:Brasildefato